Indíveri Collucci, o Naturopata de Paço de Arcos
(Itália 1879, Dez. 8-Lisboa 1988)
Vale a pena recordar Indíveri Colucci, cujo prestígio lhe mereceu ter o seu nome atribuído a uma rua em Paço de Arcos. Diplomado pela American School of Naturopaty, Indíveri Colucci encontrava-se em Lisboa para embarcar num navio em direcção ao continente americano quando, devido ao eclodir da I Grande Guerra, se viu impedido de o fazer. Teve que começar a exercer em Portugal para subsistir e tendo gostado do país por cá se estabeleceu até ao fim da sua longa vida.
Foi o grande nome da saúde natural portuguesa. O seu êxito profissional foi imenso, acolhendo doentes não só de Portugal e das então colónias como de vários países da Europa (VENTURA, p. 12). Por isso a sua fama se estendeu por outros países, principalmente França, tendo excelentes relações com a grande figura de então da naturopatia mundial, o francês Pierre Marchesseau, tendo ambos trocado visitas em ambos os países.
Foi proprietário, director e inspirador da revista Natura, que teve uma influência enorme, com assinantes em todo o país e no Brasil. Foi o responsável pela longa sobrevivência desta revista (que só resistiu três anos após a sua morte) e que a generalidade dos leitores identificava com ele. Assinou editoriais, liderou lutas, nomeadamente a da criação de uma escola de medicina natural (VENTURA, p. 43), que nunca conseguiu concretizar, sendo que antes de 1974 seria impossível… Mas em 1980, já nos últimos da sua vida, ainda assistiu ao nascimento da primeira escola: o Instituto Médico Naturista, na avenida Praia da Vitória, próxima do Saldanha, em Lisboa.
Em 1939 fundou (TORRÃO, p. 13) e dirigiu até ao fim da vida o Instituto Dr. Indíveri Colucci em Paço de Arcos. Segundo a lei de então aquela unidade tinha de ter um médico como director clínico e, não sendo ele médico, mas naturopata, essa função foi formalmente exercida, nomeadamente, por Bentes Castel-Branco e depois por Adriano de Oliveira, figuras de referência da medicina natural portuguesa e admiradores de Colucci, tendo-me aquele segundo médico repetidamente referido que muito aprendera com Colucci. Naquele Instituto se trataram com êxito muitos milhares de doentes. Infelizmente, com a sua morte, o Instituto deixou de ser a instituição-bandeira da saúde natural no nosso país e de cumprir a sua vocação inicial, mas no espaço ajardinado à beira da rua permanece um busto do seu fundador.
Foi agraciado pelo Estado Francês com a Medalha de Ouro por «Mérito e Devoção» em 1975 e o «Grande Prémio Humanitário de França» em 1976 (Diplomas e fotos da homenagem reproduzidos em TORRÃO).
Escreveu três livros, editados pela Nova Editorial Natura, que tiveram sucessivas reedições:
- A Cura da Sífilis, em 1953.
- Higiene e Terapia Alimentares e Profilaxia das Doenças de Origem Artrítica, em 1957.
- Prisão de Ventre: Suas Causas e Cura pelos Meios Naturais, em 1980.
Segundo o jornalista Afonso Cautela (1933-2018, também residente durante a maior parte da vida em Paço de Arcos), a Ordem dos Médicos instaurou a Colucci mais de uma dezena de processos por charlatanismo e prática ilegal da medicina, mas todas as sentenças o inocentaram, tendo os tribunais concluído que Colucci não praticava medicina, mas, com êxito, naturopatia, nem se apresentava como médico, mas como naturopata.
Em resumo, Indíveri Colucci, a partir da sua formação sólida em Naturopatia, estabeleceu-se em Portugal e aqui viveu e trabalhou mais de sete décadas, quase cinco das quais em Paço de Arcos com o seu famoso Instituto, daqui irradiando a sua acção, incluindo com a importante revista NATURA e aqui recebendo doentes portugueses e estrangeiros. A rua com o seu nome assinala aqui a sua longa e profícua vida, exemplo de insatisfação e luta por ideais de melhor saúde e bem-estar da população.
Carlos Campos Ventura
(Historiador)
Bibliografia
CARDOSO, António – A Sociedade Portuguesa de Naturalogia e o Naturismo em Portugal. Lisboa: SPN, 2012.
TORRÃO, Nunes – Do Prémio da Verdade à Justiça que Tarda. Lisboa: Nova Editorial Natura, 1979.
VENTURA, Carlos Campos (coord., introd. e org.), Saúde Natural em Portugal, séculos XIX-XXI, catálogo de exposição comissariada por Carlos Campos Ventura, e patente na Biblioteca Nacional de Portugal, fev. – maio 2018. Lisboa: BNP, 2018.
tozerodrigues@gmail.com
Excelente artigo!
Uma amiga fez lá tratamento prolongado.
TzR.\