Histórias de Vida
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Histórias de Vida

A publicação das histórias contidas no projeto Histórias de Vida desenvolvido pelas equipas das Bibliotecas Municipais de Oeiras vem agora integrar, numa abordagem original, o trabalho que, ao longo dos anos, A Voz de Paço de Arcos, na sua linha editorial, tem vindo a desenvolver em prol da divulgação, preservação e revitalização da memória coletiva e do conhecimento da história local.

Histórias de Vida foi, e é, um projeto que tem as pessoas como protagonistas. Vive do envolvimento das pessoas, da escuta e da partilha das suas histórias, dos seus percursos.

Vive do entrosamento dessas histórias com o tempo e os lugares por onde cada um(a) andou, onde viveu. Por isso mesmo é, por excelência, um projeto da e para a comunidade. É esse o grande potencial de um projeto que cruza o individual e o coletivo, através da narrativa, que é sempre a (re)leitura de um percurso, o caminho para a construção de uma identidade, não apenas a de cada um mas também a de um lugar, de uma comunidade.

Voltar a publicar as histórias representa, em primeiro lugar, uma homenagem a todos os participantes neste projeto mas é também – e sobretudo – um convite à participação ativa de toda a comunidade na preservação e na construção da sua própria história, e deixamos aqui o convite aberto para que nos cheguem novas histórias.

O projeto Histórias de Vida nasceu com o objetivo de experimentar, de forma regular e continuada, um trabalho de recolha e registo de histórias de vida de pessoas nascidas antes de 1955. Trata-se de uma frente de trabalho que se propõe contribuir para reforçar a envolvência da comunidade com a biblioteca pública e dar novos rumos à aposta que as bibliotecas municipais têm realizado na área da tradição oral e da revitalização da memória coletiva, um dos vetores cada vez mais assumido como sendo crucial e determinante para o desenvolvimento das literacias. Por outro lado, trata-se de ir ao encontro de um segmento de público que vem crescendo em número e para o qual urge encontrar formas inovadoras de promover a participação cidadã, a envolvência com a comunidade, as dinâmicas de grupo, o combate à solidão.

O Manifesto da UNESCO reconhece a importância central das Bibliotecas Públicas na criação de condições favoráveis à aprendizagem ao logo da vida, à possibilidade de um criativo desenvolvimento pessoal e ao apoio à tradição oral e inscreve como traço essencial da missão das bibliotecas públicas as suas funções social, cultural e educativa. Ser a porta local de acesso ao conhecimento, à cultura, à educação é, por isso mesmo, fazer da biblioteca pública um lugar privilegiado de encontro da comunidade, proporcionando programas e atividades que correspondam aos interesses das pessoas e promovam, através da interação e do diálogo, uma experiência social enriquecedora e positiva.

Desde a Escola dos Annales e do nascimento da Nova História que assistimos à progressiva valorização das fontes orais como importantes recursos de memória social. Hoje em dia, as histórias de vida são um instrumento metodológico relevante nas Ciências Sociais. De facto, as histórias de vida permitem-nos captar “ o que escapa às estatísticas, às regularidades objetivas dominantes e aos determinismos macrossociológicos, tornando acessível o particular, o marginal, as ruturas, os interstícios e os equívocos, elementos fundamentais da realidade social, que explicam por que é não existe apenas reprodução, e reconhecendo, ao mesmo tempo, valor sociológico no saber individual.” Brandão, Ana (2007)

Para além deste valor sociológico, que reforça o importante papel da biblioteca pública no apoio à história e à cultura locais, as histórias de vida, a sua narração, permitem a reconstituição das vivências de cada um e a reconstrução da vida como texto, como narrativa, implicando o recurso à memória, potenciando a ‘leitura’ em perspetiva do ‘meu’ percurso, abrindo portas ao autoconhecimento, à partilha e à descoberta de emoções, de sentimentos, contribuindo para reforçar positivamente a identidade de cada um.

Um projeto de recolha e registo de histórias de vida tem, à partida, as pessoas como protagonistas. Vive do envolvimento das pessoas que nele participam, partilhando os seus percursos, as suas memórias, cruzando-os com a história dos lugares onde habitaram, por onde andaram e com os acontecimentos que viveram.

O mais importante para as pessoas que nele participam é o tempo do enquanto, o próprio processo, não obstante a importância dos registos, quer como fator de motivação para os narradores, quer pela preservação e revivificação da memória individual e coletiva e do contributo que esta pode representar para o enriquecimento das fontes da história local.

Para os participantes do projeto, esta foi uma experiência pessoal e social nova, rica e estimulante. E um passaporte para outras dinâmicas que começaram a desenhar-se nas últimas sessões, como seja a de dar continuidade ao trabalho de recolha de registos de histórias de vida, assumindo o grupo a responsabilidade de selecionar as pessoas e de as entrevistar, com base em temáticas relevantes para a história local.

De registar ainda o contacto frutuoso com a Casa de Repouso da Marginal, numa primeira instância através da animadora sociocultural Diana Matos, que identificou alguns utentes para a participação no projeto e do qual veio a resultar a criação de uma biblioteca na Casa de Repouso, inaugurada em Junho de 2015.

O que se apresentou num pequeno livro foram apenas momentos fotográficos desse processo de entrevistas e diálogos, composto por 18 sessões, distribuídas quinzenalmente, entre Setembro de 2014 e Junho de 2015, num total de mais de 50 horas e centenas de páginas transcritas de muitas histórias e conversas.

O livro editado pelo Município foi apenas um dos registos destas histórias de vida e uma homenagem aos seus protagonistas. Outros registos virão, procurando aliar as potencialidades tecnológicas e o recurso ao digital como forma de ampliar a divulgação do projeto e diversificar a sua abordagem, com recurso às linguagens multimédia e à internet, A Voz de Paço de Arcos associa-se com muito gosto à ampliação do projeto.

Momentos fotográficos, luzes, janelas abertas nas histórias de vida da Amélia Teixeira, da Ana Paula Torres, da Clotilde Moreira, da Helena Abreu, da Maria Sam Pedro e do Paulo Gameiro e também da Aline Bettencourt, do Aurélio Figueiredo, do Francisco Madeira Luís, da Manuela Carvalho, da Salete Cerqueira, que estiveram menos tempo conosco mas cujo contributo enriqueceu este projeto de forma inestimável.

A todos eles o nosso muito obrigado. Pela confiança, pela partilha, pelas histórias, pela aprendizagem. Pela verdade e pela beleza das vossas histórias de vida.

No dia 16 de Maio assinala-se o Dia Internacional de Histórias de Vida. A Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas associou-se aos projectos Memóriamedia e Museu da Pessoa Portugal para a comemoração deste dia e na defesa da seguinte causa:

Todas as pessoas têm um papel na sua comunidade; ouvir as suas histórias é uma forma de promover a integração pessoal e social; é uma forma de promover a identidade e memória colectiva.

No âmbito das comemorações, várias bibliotecas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas participaram no evento Uma Biblioteca, Uma História de Vida, Um Registo,tendo registado em vídeo um episódio da história de vida de um convidado.   Os vídeos serão disponibilizados a 30 de Junho no sítio do projecto Memóriamedia.

Bibliotecas Municipais participantes: Alcanena, Alijó, Alvaiázere, Anadia, Arouca, Braga, Boticas, Cartaxo, Castelo de Vide, Castro Marim, Castro Verde, Espinho, Guarda, Lagos, Loulé, Lousada, Mealhada, Moita, Montalegre, Nazaré, Odivelas, Oeiras, Porto, Proença-a-Nova, Reguengos de Monsaraz, Ribeira Grande, Seixal, Tábua, Tabuaço, Tavira, Torres Novas, Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira, Vila Velha de Ródão e Viseu. 

Para saber mais consulte os sítios www.memoriamedia.netwww.ausculti.org e https://historiasdevida.cm-oeiras.pt/o-projeto/

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Um projecto de recolha e registo de histórias de vida tem, à partida, as pessoas como protagonistas. Vive do envolvimento das pessoas que nele participam, partilhando os seus percursos, as suas memórias, cruzando-os com a história dos lugares onde habitaram, por onde andaram e com os acontecimentos que viveram.

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