Esta terra não é a minha terra. Nenhuma terra é a minha terra. Nenhum grão do que seja, de terra, de areia, do que seja, é terra que eu pise. Eu não piso chão algum. Eu não me movo, não me atrevo, nesta ou em qualquer terra. Quantos anos somam as poeiras que me ferem a vista cansada? As mesmas que me tragam entranhas e pele e os olhos feridos, esbatida a visão que me toldam numa rajada de vento vil e doentio. Poeira traiçoeira que me devora e impede de pisar o chão, chão algum. Me fustiga a alma dilacerada, me expulsa desta casa que não tenho, que não habito, como a terra, terra alguma, seja qual for. Nenhuma terra é a minha terra. Eu não vivo, nem respiro, não me movo, nem respiro, não existo, nem respiro. Em terra alguma, eu não tenho terra, eu não a exijo, não a permito. Esta, esta terra que não é minha. Nem esta nem terra nenhuma.
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One thought on “Terra nenhuma”
Gostei imenso