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Os Quatro Vilões da Era Digital

“Navegar na internet é uma coisa. Naufragar nela, estando constantemente online é algo bem diferente e até de certo modo limitador, sujeito a atrapalhar a nossa concentração, a capacidade de aprender e de raciocinar.”

Jim Kwik

Hoje venho falar dos quatro vilões ligados ao mundo digital, segundo Jim Kwik no seu livro: Sem Limites.
Ao longo dos anos na minha prática clínica venho trabalhando com pessoas de diversas faixas etárias e uma frase que surgiu diversas vezes em consulta é, que a tecnologia existe para nos auxiliar e não para que nos tornemos dependentes dela. Para que isso não aconteça, torna-se importante desenvolver a atenção, pois é muito fácil deixarmo-nos levar pelo universo internáutico, pelo excesso de estímulos cerebrais gerados pelas redes sociais e pela facilidade com que a tecnologia pode-nos enfraquecer a memória e a capacidade de raciocínio.
O primeiro vilão, segundo Jim Kwik, é o dilúvio digital que tem a ver com o fluxo incessante de informação num mundo onde o tempo é finito e as expectativas são injustas, o que leva a assoberbamento, a ansiedade e insónias. Afogados em dados e mudanças rápidas, desejamos estratégias e ferramentas que nos permitam recuperar alguma forma de produtividade, desempenho e paz de espírito, mas às vezes o que necessitamos realmente é de um pouco de silêncio digital.

E isso leva-nos diretamente ao segundo vilão que é a distração digital. O prazer da dopamina digital gerado pelo constante estar ligado aos likes e às mensagens dos amigos e entes queridos, às dezenas de notificações que nos chegam a toda a hora no telemóvel, substituem a nossa capacidade de manter a atenção necessária para uma descontração profunda, uma aprendizagem profunda ou um trabalho profundo. Pode, até certo ponto, gerar auto-estima, mas existem estudos de que quando em demasia, a mente tende a ficar distraída, ter dificuldade de foco e em certos casos, dependente de mais likes para a pessoa se sentir bem.

O terceiro vilão é a demência digital. Jim Kwik diz que a memória é um músculo que temos permitido que se atrofie. Embora andar com um supercomputador no bolso tenha os seus benefícios, veja o telemóvel como uma bicicleta elétrica que é divertida e fácil, mas que não nos põe em forma. A investigação sobre demência tem revelado que, quanto maior a nossa capacidade de aprender, – quanto mais “exercício cerebral” realizamos, – menor é o nosso risco de demência. Em muitos casos externalizamos a nossa memória e isso apesar de prático, pode também nos prejudicar pelo parco uso que vamos dando ao cérebro. Um bom exemplo, é o facto de entrarmos no carro e ligarmos logo o gps, quando em certos casos, se fizermos um pequeno esforço, conseguimos perfeitamente chegar aquele lugar ao qual já fomos duas ou três vezes. Outro exemplo, é pensar quantos números de telefone sabíamos de cor quando éramos jovens e quantos sabemos hoje?

O quarto vilão para o cérebro é a dedução digital. Num mundo onde a informação é abundante e acessível, talvez tenhamos ido longe demais na forma como usamos essa informação, chegando mesmo ao ponto de deixar que a tecnologia realize grande parte do nosso pensamento crítico e dos nossos argumentos. Há tantas conclusões alcançadas por outros na internet que ficamos preguiçosos em deduzir por nós mesmos. Antes de irmos perguntar ao google, é importante perguntarmo-nos, o que é que eu, fulan@ tal, penso realmente acerca deste ou daquele assunto?
Será que tudo aquilo que vivi e aprendi até hoje, as experiências pelas quais passei e superei, não têm assim tanto valor?

Navegar na internet é uma coisa. Naufragar nela, estando constantemente online é algo bem diferente e até de certo modo limitador, sujeito a atrapalhar a nossa concentração, a capacidade de aprender e de raciocinar.

A fim de lidarmos equilibradamente com essa ferramenta fantástica que é a tecnologia, lembre-se que é importante, tal como eu disse no início do texto, desenvolver a atenção. É fundamental estarmos conscientes dos nossos desejos, das nossas reações automáticas, estar atentos aos gatilhos que podem gerar vícios de atuação e que depois estão sujeitos a degradar a nossa memória, a nossa saúde física e mental, e a qualidade de vida da nossa família.

Mais uma vez saliento aqui a importância das pausas. Como diz a sabedoria popular, mais vale prevenir do que remediar.


Bruno Gonçalves
(Naturopata e Acupuntor)
Texto livremente inspirado no Livro de Jim Kwik: “Sem Limites

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