Elefante Branco e Presente de Grego
Juntei duas expressões muito usadas no meu longínquo Brasil. Longínquo no sentido geográfico e no sentido social. Mas esse último aspeto não vem o caso para o propósito desse artigo. Fica para outra ocasião. Ambas as expressões significam, em linhas gerais, algo aparentemente bom mas que se revela um transtorno. Sabe aquela prenda bonita que você ganha e descobre que além de inútil é de manutenção cara? Pois é. Nesse caso costumamos utilizar a segunda expressão: isso é presente de grego. Recorde-se que os romanos ofereceram um cavalo à Troia recheado de soldados que os atacaram.
A primeira expressão foi, em tempos, muito utilizada para referir-se à obras, principalmente públicas, inacabadas ou acabadas. Quando inacabadas elas são caras para serem finalizadas e se finalizadas inúteis e de manutenção igualmente cara. Elas vão permanecendo na paisagem até a sua completa deterioração e lá num futuro distante demolidas, ou não. No Brasil há um miríade delas. Lembro-me de um viaduto em Santo André, região do ABC Paulista, ou melhor, um pedaço de viaduto que permaneceu anos a espera que de que contruíssem as secções de uma e outra pontas. Apesar de de isso fazer talvez uns quarenta anos, desconfio que, dada a inoperância do poder público, não me admiraria nada se lá ainda estiver.
Cheguei em Caxias em 2005 e assim que dei pelo SATU quis viajar no que me parecia ser um transporte do futuro. No entusiasmo não prestei atenção no mapa das estações. Comprei o bilhete, aboletei-me junto à janela de um banco confortável preparado para desfrutar da paisagem. O mesmo fizeram uma meia dúzia de pessoas. Qual não foi a minha surpresa quando a carruagem parou no Oeiras Parque as portas abriram-se e me dei conta de que a viagem terminava alí. Relevei. Pensei comigo mesmo, ah! logo vão dar continuidade a obra e imaginei que maravilha seria viajar por sobre aquele vale que se estendia até lá ao fundo na direção de Sintra.
Qual o que! Lá se vão dezasseis anos e o elefante branco continua ali, só que agora, morto. Nos primeiros tempos eu me perguntava o que teria havido para aquela abrupta interrupção do que poderia ser uma viagem que, vim a saber, se conectaria com os comboios da linha de Sintra. Por uns bons anos o SATU ia para cima e voltava cá para baixo solitário sem uma viva alma no seu interior. Dava tristeza vê-lo à noite subir e descer com sua luzes iluminando o nada. Um nada que se repetia no movimento ininterrupto das escadas rolantes e nas luzes da estação acesas por longas horas. Ainda pensei sugerir aos operadores baixar os preços do bilhete daquela, sim, geringonça, a fim de estimular o seu uso e fazer algum carcanhol para pagar pelo menos parte das manutenção do sistema fantasma. Afinal 1,20€ se não estou em erro era esse o preço, era uma exorbitância para percorrer uns poucos metros. Pensei mas, logo dispensei. Finalmente alguém deu pela estupidez daquele desperdício e desligou o mostrengo que agora repousa ali sendo carcomido pelo tempo num triste retrato da inoperância dos poderes públicos. Talvez esteja sendo injusto pois não sei a quem cabia operar e manter o SATU e tampouco o quanto custou aos cofres da viúva a sua construção.
Elefante branco: significado e origem da expressão
Essa expressão teve origem no Sião, na Ásia. Como sinal de bênção, o rei oferecia um elefante branco a algumas famílias. O elefante branco era considerado sagrado e era uma honra receber tal presente do rei. Contudo, como as despesas para a manutenção do elefante eram extremamente elevadas, esse presente transformava-se num grande incômodo, do qual não se podiam livrar.
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