Mestre Bruno e o Vale da Misericórdia
Mestre Bruno
Nascido em Colónia ( Köln ) entre 1026 a 1035, em berço nobre, filho varão numa das famílias mais importantes da cidade. Bruno von Köln, Bruno Hartenfaust, ou Hardebüst, ainda muito jovem foi enviado, para estudar, em Reims e Paris. Destacou-se nos estudos pela sua inteligência brilhante. Tornou-se especialista em humanidades, línguas, direito e outras matérias. Terá sido dentro do mundo universitário que se sentiu chamado para o sacerdócio.
Já como Padre Bruno, porém, sentia necessidade de uma vida mais austera, após uma experiência sobrenatural quando estivera a velar um defunto. Esse chamamento faz com que ele e mais 6 companheiros, após curto estágio num mosteiro beneditino, se retirassem para uma isolada região rochosa do Alpes ocidentais, chamada de Maciço da Chartreuse, para aí tentarem encontrar o espaço ideal para meditação e se dedicarem à oração e à vida contemplativa.
Com Bruno foram cânones Landuin, Stephen de Bourg e Stephen de Die, de St Rufus, Hugh capelão e dois leigos, Andrew e Guerin, que depois se tornaram os primeiros irmãos leigos.
Na noite anterior à chegada do Padre Bruno e dos seus companheiros, o bispo da região (Grenoble) teve um sonho: viu sete estrelas descerem do céu sobre aquela região desértica. Foi no ano de 1084, neste ano, Bruno e os seus companheiros assumiram aquele lugar como um presente de Deus. Ali, ergueram barracos bem simples feitos de madeira e uma capelinha dedicada a Nossa Senhora. Quando terminaram de construir a capelinha e de dedicá-la à Virgem Maria, jorrou da terra um jato de água que se transformou numa fonte fornecedora de água e vida para aqueles monges solitários.
Nascia ali a contemplativa Ordem dos Cartuxos. Bruno e seus companheiros escolheram viver uma vida bastante rigorosa. Alimentavam-se apenas de dois em dois dias. Dormiam menos e viviam sob muita disciplina. Vestiam roupas brancas e ásperas e dedicavam suas vidas à oração, ao trabalho e à caridade fraterna. Um abade, superior da comunidade Monástica de Cluny que conheceu o local e a vida daquela comunidade descreveu-a assim:
“… São os mais pobres entre os monges e habitam cada um uma cela com seu tosco hábito de penitência e quase só comem pão. Não comem carne, nem peixe. Aos domingos e as quintas comem ovos e queijo. As segundas e sábados ervas e nos outros dias água e pão. Só comem uma vez ao dia, exceto nos dias de festa quando não comem e guardam estrito silêncio, comunicando-se através de sinais.”
Abade de Cluny
O lugar escolhido por Bruno revelou-se mais tarde não ser o mais adequado dado a quantidade de avalanches; um dos seus sucessores, Guigues I, “O Cartuxo”, viria a transferir comunidade para um local mais abaixo do primitivo, e fundou a (Grande Cartuxa) ou o Monastère de la Grande-Chartreuse.
Padre Bruno sentia-se feliz na vida que levava, porém, em 1090, o Papa Urbano II, seu ex-aluno, chamou-o para ser seu colaborador em Roma, onde o foi servir como seu assessor. Papa que o nomeia Arcebispo de Reggio (Calábria), e passado algum tempo lhe concede licença para voltar à solidão monástica, ao silêncio e à contemplação, desde que dentro de Itália.
Foi escolhido um vale montanhoso e à época isolado e inóspito no planalto da Serra da Calábria, entre Arena e Stilo, Bruno obteve o terreno por meio de ato redigido em Mileto em 1090. Chegando ao vale superior do rio Ancinale , perto de Spadola (a única zona habitada na época), seguiu o seu curso até uma nascente que se perdia num labirinto de pequenos vales, ravinas e falésias, atrás da clareira de Santa Maria. Foi nesta clareira que ele encontrou “uma boa fonte”. Perto da mesma fonte havia uma pequena caverna e o já arcebispo Bruno ficou encantado por ter encontrado o lugar ideal para uma fundação monástica, e foi aí que fundou a Ermida de Santa Maria di Turri ou del Bosco que passou a ser conhecida como Certosa di Serra San Bruno.
Numa carta (1097) dirigida a Raoul le Vert, um dos dois companheiros que fizeram com ele o voto de consagrar-se à vida monástica, Bruno descreveu a natureza do lugar da seguinte forma:
«No território da Calábria, com irmãos religiosos, alguns dos quais muito cultos, que, na perseverante vigilância divina, esperam a volta do seu Senhor para abrir logo que ele bater, vivo numa ermida bem longe, de todos lados, das habitações dos homens. De sua amenidade, de seu clima ameno e saudável, da vasta e agradável planície que se estende por um longo trecho entre as montanhas, com seus prados verdejantes e suas pastagens florescentes, o que eu poderia dizer de maneira adequada? Quem descreverá bem a aparência das colinas que se erguem suavemente de todos os lados, o recesso dos vales sombrios, com a agradável riqueza de rios, riachos e nascentes? Não faltam pomares irrigados, nem árvores frutíferas variadas e férteis ”
Bruno von Köln – 1097
Terá sido aí que os Estatutos da Ordem da Cartuxa da Torre ou Ordem Cartusiana terão começado a ser delineados, foi tambem nesse local que a vida do já aclamado de Santo expirou, terá falecido a um domingo, a 6 de outubro de 1101, aproximadamente uma década antes do nascimento de Afonso Henriques.
Ordem da Cartuxa foi aprovada em 1176, pelo Papa Alexandre III, o mesmo Pontífice que, três anos depois havia de reconhecer Afonso Henriques como Rei de Portugal e tomaria sob a sua defesa e especial proteção o então jovem reino peninsular.
São Bruno não foi canonizado formalmente, pois os Cartuchos refutam todas as manifestações públicas, no entanto, em 1514 obtiveram do Papa Leão X a permissão de celebrar a festa de seu fundador. A festa de São Bruno passou a ser celebrada a 6 de outubro.
“O proveito e a alegria que a solidão e o silêncio do ermo trazem a todos os que o amam, só os que tiveram a experiência podem apreciar”
Bruno von Köln – 1101
São Bruno foi um homem de carne e osso, e também de coração, serão por isso simples de entender os seus textos mais contemplativos.
O santo tornou-se padroeiro da região italiana da Calábria, onde passou os últimos anos da sua vida e da cidade de Colónia, onde nasceu, na Alemanha.
Em 1623 o Papa Gregório XV estende o culto de São Bruno a toda a Igreja.
O local de descanso final de São Bruno, o seu túmulo, está localizado no que antes era um refúgio pessoal do próprio enquanto estava na Serra da Calábria, que foi parcialmente destruído no mesmo terramoto de 1783 que tornou a igreja adjacente, original, em ruínas. Apesar disso, ainda é possível ver os restos do local original, incluindo dois conjuntos de degraus de pedra, o restante de uma parede de tijolo vermelho e alguns pilares agora suportados por barras de ferro para evitar que tombem.
A descrição do local recentemente visitado por uma turista:
…subi os degraus aparentemente antigos do túmulo de São Bruno e fechei os olhos. Com essa pausa tranquila, eu pude ouvir a sinfonia de centenas de pássaros cantando nas árvores ao meu redor, o soprar do vento farfalhando nos galhos e as exalações quase silenciosas de minha respiração a cada segundo que passava. Quando abri meus olhos, olhei através do portão de ferro forjado preto e no nível superior arejado da cripta. Bem à frente está uma estátua de mármore branco de um São Bruno descansando com uma caveira posicionada em frente a ele, perto de seu cotovelo apoiado. Ele está sentado em uma alcova rasa, com lanternas penduradas ao redor da boca e uma grande cruz de madeira centrada diretamente acima de seu corpo. Acima, centrado no teto do interior da tumba, está um grande lustre de ferro forjado preto com delicadas rosas feitas do mesmo metal. Abaixo, você pode ver claramente a entrada para o túmulo subterrâneo onde os restos mortais do santo foram colocados para descansar permanentemente.
Emily Fata – 2019
A Ordem Cartuxa
Diz-se que uma das Ordens religiosas mais austeras da Igreja Católica é indubitavelmente a Cartuxa; e, no entanto, apesar dos seus mais de nove séculos de existência, ela é praticamente desconhecida da generalidade das pessoas, e mesmo de muitos dos próprios católicos.
« Nossa ocupação principal e nossa vocação é a de dedicar-nos ao silêncio e à solidão da cela.[…] Nela com freqüência a alma se une ao Verbo de Deus, a esposa ao Esposo, a terra ao céu, o humano ao divino. »
Estatutos 4.1
A vida de clausura e de abnegação para os monges cartuxos, o universo do silêncio e da solidão dos seus Mosteiros, onde se mantinha o absoluto silêncio, a fim do aprofundamento na oração e à meditação das coisas divinas, ofícios litúrgicos comunitários, obediência aos superiores, trabalhos agrícolas, transcrição de manuscritos e livros piedosos seriam um modo de vida escolhido pelos próprios.
Os membros da ordem têm todos os dias uma agenda a cumprir escrupulosamente, mas, sendo uma escolha, um chamamento ou vocação, serão executadas com naturalidade.
É numa solidão, propícia para o maior recolhimento, que seguidores de S. Bruno construíram em cada Mosteiro, pequenas celas, separadas umas das outras a pouca distância, e reforçaram a regra de S. Bento com o silêncio quase contínuo, hábito grosseiro e incómodo, abstinência perpétua de carne e outras grandes austeridades. Toda a alimentação dos monges cartuxos consta de legumes, pão e água. Repartiam o tempo entre a oração, a meditação, os trabalhos no campo e a transcrição de livros de estudo. Reuniam-se só ao sábado, para se confessarem e tratarem dos problemas gerais da comunidade. A Cartuxa, portanto, é um misto de vida contemplativa e de vida ativa, talqualmente viviam nos primeiros séculos da Igreja, os eremitas de Tebaida, no Egipto, e na Palestina.
Mestre Bruno, como passou mais tarde a ser carinhosamente chamado pelos seus discípulos, entrou com seis companheiros no deserto de Chartreuse, onde se instalou. Tanto eles como seus sucessores, Permanecendo ali sob a direção do Espírito Santo, e deixando-se formar pela experiência, eles e os seus sucessores elaboraram um estilo próprio de vida eremítica, transmitido às gerações seguintes não por escrito, mas pelo exemplo.
Mas a instâncias de outros eremitérios fundados a imitação do de Cartuxa, Guigo, quinto Prior de Cartuxa, pôs por escrito a norma de seu propósito, que todos se comprometeram a seguir e imitar, por isso, o ano do Senhor 1271, o Capítulo Geral reunindo num o principal sacado dos Costumes de Guigo, 80 capítulos para uma regra que intitulou Consuetudins Cartuseae, das ordenações dos Capítulos Gerais e dos usos da Grande Cartuxa tomados em conjunto, promulgou os Antigos Estatutos, apoiando-se em princípios que impõe a solidão, o silêncio, o jejum, a abstinência de carne, a clausura perpetua, o uso de cilicio e a oração durante a maior parte do dia e noite. A estes se adicionaram o ano 1368 outros documentos, que se denominaram Novos Estatutos; adicionados também documentos no ano 1509, chamaram-se Terceira Compilação.
Estes princípios então estabelecidos têm sido seguidos desde então com rigor, embora em graus diferentes conforme a classe do membro desta comunidade composta por padres e pelos irmãos leigos. Os padres, que passam a maior parte da sua jornada em clausura no interior das suas celas, onde rezam e tomam as refeições, deixando as celas param um passeio semanal, às segundas-feiras; nos restantes dias, saem apenas três vezes para se deslocarem à Igreja, onde se reúnem com os irmãos leigos, a quem cabe a responsabilidade de realizar todas as tarefas de manutenção, no exterior das suas celas, mas de forma isolada.
Cada mosteiro é chefiado por um Antes, eleito pela comunidade ou nomeado por autoridades superiores da ordem. Os Superiores são eleitos por um período de tempo, mas deve renunciar (“pedir misericórdia”, de acordo com a ordem fórmula específica) para cada capítulo geral decide renová-los ou não em seus cargos, eles também podem ser depositados canônica por visitantes de suas casas, mandatado pelo Capítulo Geral.
Como resultado, cada monge que desempenha uma função, desde o mais humilde ao mais alto, pode permanecer no cargo indefinidamente se ele cumpre os seus deveres para com a satisfação de todos, ou pode ser apresentado a qualquer momento se acontecer um problema sério. Nenhum outro sistema de governo não permite tanta flexibilidade e liberdade e o equilíbrio de poder.
A rotina dos cartuxos está dividida desde sempre em três grandes partes. A mais importante são as oito horas diárias dedicadas à oração, mas há oito horas de trabalho e oito de descanso. Os dias dos monges começam antes da meia-noite. No íntimo da cela, levantam-se, rezam e quando o sino repica, assomam à porta. Esperam a chamada para as Matinas e as Laudes da Santíssima Virgem. Dirigem-se à igreja, à meia-luz, onde oram, cantando as melodias gregorianas durante duas a três horas. A cena repete-se nos mosteiros da Ordem. Outra, não menos importante, especificidade cartusiana é que os monges falam dos homens a Deus e não de Deus aos homens.
Mapa interativo com todos os conventos atuais da Ordem (2019)
A Ordem Cartusiana está a mirrar por toda a Europa, mas a geografia cartuxa revela uma surpreendente vitalidade na América do Sul e na Ásia, com destaque para a Coreia do Sul. Na Europa, resistem três mosteiros em França e três em Espanha, dois em Itália, um na Suíça, um na Alemanha, na Eslovénia e outro em Inglaterra. Também os Estados Unidos têm um mosteiro, assim como o Brasil e a Argentina. No total são cerca de 300 os monges. Os maiores mosteiros são a casa-mãe (a Cartuxa original fundada por São Bruno), em França, e o mosteiro na Alemanha, cada uma com 28 monges. Segue-se Inglaterra, com 23 monges, e dez outras cartuxas que terão entre 11 e 20 homens. Na Itália e na Eslovénia não passam de dez religiosos por mosteiro.
O quotidiano de um espaço Cartuxo atual é resultado de um processo centenário de simplificação e eliminação do acessório para que cada um destes homens consiga entregar-se exclusivamente à contemplação, oração e leitura. O tempo de um cartuxo é intensivamente programado, ocupado e balizado; numa sucessão de tarefas ora terrenas, ora espirituais, para as quais são ainda chamados pelo toque de um sino.
Arquitetura
Durante o século XII, e grande parte do século XIII, os conjuntos monásticos da Ordem Cartusiana consagravam o isolamento e o contemplamento e por isso caracterizavam-se pela sua implantação em lugares inóspitos, pelo isolamento dado pelo próprio edifício, pela sua separação em dois núcleos (a casa alta para os padres, e a casa baixa para os irmãos leigos), e pela ausência de um esquema fixo de distribuição dos seus espaços, todas elas resultantes da aplicação rigorosa dos princípios de solidão e pobreza.
A morfologia de um mosteiro ou ermo cartuxo constitui um tipo próprio no âmbito da arquitetura das casas religiosas. Caracteriza este tipo, antes de mais, a predominância dos espaços de utilização individual sobre aqueles de utilização coletiva. A vida da ordem, segundo as Consuetudines ou costumes estabelecidos pelo prior Guigues em 1128.
Ao mesmo tipo de construção obedeceu a Cartuxa de Laveiras, cuja planta, embora incompleta, chegou a conter os elementos fundamentais que caracterizam um mosteiro desta ordem; as ermidas e respetivo claustro de especial desenvolvimento, os jardins privativos dos monges, a igreja com divisão interior e claustros laterais (um existente e o outro cuja marcação apenas existe a lateral da igreja).
O templo, numa imitação livre da Igreja da Cartuxa de Évora, cuja traça se assemelha à da de Santa Cecilia in Trastevere, em Roma, apresenta uma imponente fachada em pedra de calcário da pedreira local. Não tem torres sineiras, colocando no ponto mais elevado e central, a Virgem com o Menino (“Santa Maria Vallis Misericordiae“).
Em Laveiras tem início a construção de um eremitério, em 1603, para 12 monges cartuxos. Ampliado entre 1613 e 1736, passa a conter um claustrum minus, rodeado por cinco capelas, igreja, sacristia, capítulo e refeitório, assim como um claustrum maius, rodeado pelas habitações dos monges cartuxos. A edificação das habitações dos monges nunca chega a concretizar-se em toda a sua extensão. O edifício é abandonado em 1833, em consequência da entrada dos liberais em Lisboa, e sofre fortes alterações aquando da sua reconversão para reformatório, no início do séc. XX.
Das melhores fontes para se entender o valor patrimonial e arquitetónico do local será mesmo lendo a sua discrição no site da Direção-Geral do Património Cultural em:
» LINK Descrição
» LINK Enquadramento Legal
» LINK Estado atual
Acrescentar apenas o apontamento cultural que a igreja tem condições acústicas excecionais, e vem sendo utilizada regularmente para gravações discográficas (nomeadamente pela editora “Deutsche Grammophon“) e a contribuição que o conceito arquitetónico teve em Le Corbusier na forma de pensar as cidades do século XX. LINK
A influencia da arquitetura cartusiana nas edificações atuais é mostrada em novembro de 1922, quando no stand de Urbanismo do Salon d’Automne de Paris, Le Corbusier apresenta pela primeira vez o projecto Immeuble-villas, um dos elementos que compõem une Ville contemporaine pour 3 millions d’habitants (Figura ao lado).
Surge à época como uma nova tipologia de habitação, contendo espaços privados e espaços comunitários: armazém, cozinha central, restaurante, lavandaria, pista de atletismo, solários, salas de desporto, de jogo, de estudo e de festas.
Cada apartamento consistia numa pequena casa com jardim, dentro de um grande edifício de habitação coletiva.
Cartuxa de Laveiras
O responsável pela introdução desta comunidade em Portugal em 1598 foi D. Teotónio de Bragança (1530-1602), sobrinho de D. João III – terceiro Arcebispo de Évora desde 1578 escreveu ao Papa Gregório XIII a 1 de Janeiro de 1583 a seguinte carta:
Beatíssimo Padre: Com particular estima venerei e prezei sempre todas as ordens religiosas, porém, minha inclinação e afeto foi, em especial, pela santíssima Ordem da Cartuxa, não só pelo conhecimento que tenho do seu contínuo exercício em todas as virtudes, senão pela experiência do cuidado da sua primitiva regra e modo de viver angélico”…
Teotónio de Bragança, S.J.
D. Jorge de Ataíde, também ele devoto da Ordem de S. Bruno, bispo de Viseu e capelão-mor de Filipe II empenhou-se em estabelecer em Lisboa esta ordem de São Bruno de Colónia após a sua chegada a Portugal, a Évora, em 1587. Fez a proposta ao capítulo geral e este autorizou o prior D. Luís Telmo, da Cartuxa de Évora, a aceitar umas casas na atual Travessa dos Brunos, na Pampulha, (atual freguesia da Estrela) Lisboa , oferecidas pelo bispo, onde nascerá posteriormente o atual topónimo desta Travessa. Os cartuxos de São Bruno tinham aqui uma capela e eram proprietários de umas casas, onde estavam instalados provisoriamente.
Nascida em São Tomé, Simoa Godinha era neta de um dos primeiros povoadores portugueses e, com Ana de Chaves e Catarina Gomes, fazia parte de uma elite. A sua família era já possuidora de grande fortuna, tendo herdado a maior parte dos bens do seu avô, quer pelos testamentos da sua mãe como da sua tia. Quando veio para Lisboa e casou com o nobre português Luís de Almeida era já uma mulher muito rica.
Simoa Godinha ficou conhecida pela sua caridade e pelo seu apoio à Misericórdia. Quando D. Manuel mandou construir a sumptuosa Igreja da Misericórdia, que era o segundo maior templo da Lisboa manuelina a seguir ao Mosteiro dos Jerónimos, D. Simoa Godinho mandou erigir uma capela lateral, onde seria enterrada juntamente com o seu marido.
Já viúva e sem filhos, Dona Simoa Godinha morre, a 26 de março de 1594 em Lisboa, logo no dia seguinte, domingo, dia do do seu funeral, procede-se à abertura do Testamento e do Codicilo, perante o Licenciamento Francisco Velozo, juiz do Cível na Cidade de Lisboa, o qual ordenou ao tabelião Manuel Gonçalves que, para constar, passasse as respetivas certidões de abertura, seria sepultada junto do seu marido na capela lateral mandou erigir na Igreja da Misericórdia e aí repousaria para sempre, não fora a fatídica manhã de 1 de novembro de 1755. O templo foi totalmente destruído pelo terramoto, tento apenas ficado levantado o altar que D.Simoa mandou erguer. Os elementos resgatados foram incorporados na nova edificação, mandada construir pelo Rei D.José, que passou a chamar-se de Igreja da Conceição Velha, já sem a capela de D.Simoa, que continua a repousar algures sobre o altar-mor.
Teria Dona Simoa Godinha preparado o seu testamento em segredo com o seu confessor, o Padre Frei Belchior (frade Arrábido), na maior intimidade. Foi o Padre que lho escreveu e a quem pediu que, como testemunha única, com ela, o assinasse também:
Pedi ao Padre Frei Melchior (sic). meu Confessor. Religioso da Ordem do Seráfico Padre São Francisco, morador na Província da Arrábida, peta muita devoção, amor e respeito que lhe tenho, me escrevesse e comigo nele se assinasse, porque fizesse mais fé de ser esta minha derradeira e última vontade …
D. Simoa Godinho
Várias eram as quintas que Dona Simoa Godinha possuía nos arredores de Lisboa, algumas herança do marido e outras adquiridas após o casamento com Luís de Almeida.
Entre os vários legados em testamento importa destacar o da Quinta de Laveiras, nos arredores de Lisboa. Eis como no testamento a ela se refere:
Se acaso morrer sem fazer de minha quinta de Laveiras, Mosteiro de Religiosas pobres, como desejo e confio fazer, ainda que quem me este meu testamento faz me põe dificuldade de estarem ali mulheres, eu desejo que se celebre ali o Oficio Divino, pelo que peço ao Senhor Provedor e a meus testamenteiros façam na mesma quinta Mosteiro de Religiosas pobres, e quando não puder ser bem serem freiras, sejam frades, de maneira que nela se sirva a Nosso Senhor Deus “…”por pessoas eclesiarcas e religiosas e como eu confio que o Senhor Provedor que nesse tempo servir a Mesa da Santa Misericórdia – a qual fica por minha universal herdeira – fará nisto como se dela espera”…”E por entanto que isto se não efectua, as novidades das vinhas assim em uvas como em vinho e as novidades do pomar, gastem-se com os incuráveis do Hospital de Santa Ana que está sobre minha Capela que tenho na Casa da santa Misericórdia, e gastar-se-ão como bem parecer ao Senhor Provedor que pelo tempo for”…
D. Simoa Godinho
deixando assim a quinta em legado, no seu testamento, à Misericórdia de Lisboa, para fundação de um mosteiro de religiosas pobres ou, não o podendo ser, de dez ou doze frades, pelo menos, assim como o de uma verba para construir o respetivo edifício.
Das disputas entre Franciscanos Arrábidos e frades Cartuxos, pelos terrenos deixados em herança do Dona Simoa Godinho, venceram os segundos com apoio do Rei, tendo sido a passagem pela Pampulha apenas um compasso de espera.
Em 1597, a Bula “Circa Curam” de Clemente VIII, a ordenar que pertence à Ordem da Cartuxa o mosteiro de religiosos pobres e que D. Simoa Godinho determinou a fundação no seu testamento.
Em 1598, D. Filipe II obteve do Papa Clemente VII a bula ‘Circa Curam’ com a licença para atribuí-la aos frades cartuxos que habitavam na Pampulha.
A 1 de Julho de 1603 eram finalmente entregues os terrenos afetos à da Quinta à Cartuxa, para ali se fazer um mosteiro, contratando a metodologia e quantificando os montantes a serem percebidos pelas despesas com os materiais de construção.
Além desta Quinta de Laveiras e segundo o olisipógrafo Norberto de Araújo, que escreve, “antes de falecer em 1611 o influente D. Jorge de Ataíde, capelão-mor do Cardeal D. Henrique, doou aos frades brunos, que desde 1598 já se haviam instalado na quinta de Laveiras, uma outra propriedade na antiga Rua da Palmeira, fazerem um hospício que ficou conhecido como Hospício do Monte Olivete.”
A Carta, acima representada, demonstra que a deslocação dos Frades de uma (A) Lisboa urbanizada, para uma (B) Laveiras rural seria de acordo com as regras da ordem, para procurarem encontrar aí o seu retiro de silêncio e solidão, propiciada por um maior recolhimento. O novo Vale Cartusiano oferecia à época uma imensidão sem limites.
Batizou-se o sítio de: Sanctae Mariae Vallis Misericordiae, Cartuxa de Santa Maria do Vale da Misericórdia. Um tributo mariano, na melhor tradição da Ordem, mas também uma doce lembrança de quem fora dona das terras: a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
O local, se bem que sadio e de bons ares, não era dos mais adequados a uma instituição … tanto mais que, para aproveitamento do espaço, qualquer mosteiro teria de ser construído “no fundo do vale, em sítio húmido e sombrio.” Mas os Cartuxos também gostaram do sítio, o local ermo em linha com o que pretendiam para as sua Ordem. À planura um tanto árida da charneca, poderiam acrescentar um espaço fresco e verde, um oásis, se comparado com o deserto alentejano de Évora.
De facto o vale rapidamente interessou aos cartuxos, pois lá encontrariam o tão desejado deserto cartusiano, “onde a voz que se escuta se torna mais clara e os sentidos tomam apenas uma única direção. É também no silêncio que nos podemos fazer ouvir melhor e escutar os subtis sussurros da alma, assim como um espaço amplo e repleto de vegetação em volta do mosteiro, capaz de separar e criar uma fronteira entre o deserto e a cidade.
As obras iniciaram-se por volta de 1603: “Depois que os nossos padres no ano de 1598 entravam neste sitio, começou a nova planta, ainda que devagar, a ir por diante, e deitar seus ramos ainda que tenros, não faltando com tudo alguns (e eram os mais afeiçoados) que com todas as suas forças e poder determinaram destrui-la e a cabana para não ir por diante”
A primeira fase do projeto que antecedeu o grande complexo conventual foi designada de “Mosteiro Velho” e terá decorrido entre 1603 e 1612. Situava-se no extremo poente das celas e incluía a primitiva igreja (dedicada à Nossa Senhora da Conceição e a São Bruno), a hospedaria (destinada a eventuais visitantes, incluindo os familiares dos monges) e a abegoaria. Dada a falta de recursos o primitivo mosteiro não era de grandes dimensões, não permitindo alojar toda a comunidade, apesar da simples e modesta vida praticada pelos monges cartuxos.
Já o mosteiro velho se encontrava concluído, e já parecia em ruína, dada a sua fraca construção, para além de que era demasiado pequeno para albergar toda a congregação. Em 1612 Dom Basílio de Faria é eleito novo prior da Cartuxa, e logo começa a projetar novo mosteiro, e é em 1614 com a licença de obra que é lançada a primeira pedra da nova Igreja.
O Padre D. Basílio de Faria, matemático e com conhecimentos de arquitetura, imaginou o ermo, e em carta ao prior geral da grande Chartreuse, dizia que com uma maquete de cera mostrei que o desnível do terreno era fácil de vencer . Para isso a construção teria que assentar não diretamente no terreno, mas sim sobre um criptopórtico abobadado, o que seria mais económico do que o transporte e vazamento de entulho para criar o plano horizontal, à semelhança daquilo que acontece em ScalaCoeli. Feita a cerimónia da bênção da primeira pedra em 1614, arrancava o edifício da igreja, mas quanto à restante estrutura nada de substancial se desenhara. Padre Basílio com todas as suas forças à ereção do claustro novo para o que mandou abrir uns grandes alicerces junto à raiz de um grande monte, e neles mandou levantar umas altas e fortíssimas abóbadas para vencer uma quebra dele, para por ele poder depois correr direito um claustro em quadro. Começa então a extração de pedra na pedreira existente no interior do recinto da cerca. Laveiras, esteve durante séculos presente na pedra aplicada nas obras mais significativas das redondezas, da Cartuxa às fortificações mas, também, nos Jerónimos, no Terreiro do Paço, no porto de Lisboa e nas calçadas Lisboetas
A água era um elemento por demais importante à vida na Cartuxa, desde a fonte do claustro pequeno, aos pequenos hortos de onde cada monge tirava o seu sustento. A água que alimentava a Cartuxa provinha de uma mina subterrânea que outrora se acedia no local onde viriam a ser construídas as oficinas do reformatório. Essa mina, aberta no flanco da colina, correndo para uma taça, iluminada por claraboias e alimentada por outras fontes. Na parede circular do topo da mina, onde se chegava através de uns 120 metros de comprimento, colocaram os monges um painel de azulejos representando o fundador da Ordem, revestido de hábito Sabe-se que no primeiro quartel do séc.xx ainda era possível observar dois grandes poços e um longo tanque, com cágados, pois como a carne está vedada na dieta cartusiana, salvo motivos justificados, não comiam carne, mas podiam ingerir caldos de carne de cágado, pelo que o mosteiro dispunha de um grande viveiro.
Atualmente o cenário que encontramos, para lá da cerca da Cartuxa já nada tem a ver com aquilo que os Brunos encontraram ao chegar a Laveiras. A ribeira que outrora vivia em harmonia com a vegetação e lhe trazia água, foi encanada e toda a envolvente consumida pela expansão urbana.
Dá-se uma melhoria significativa em relação às vias de comunicação, com a construção da primeira ponte, em 1618, de um só arco muito simples e sem beleza arquitetónica. Restaurada a Independência, ocorre a construção de uma linha fortificada, impulsionada pela ocupação espanhola, duas baterias, uma na ponta de Laveiras e outra na boa viagem e entre elas ficava um posto a qual chamavam de Caxias, seriam então o Forte de São Bruno ou forte de Caxias e o de Nossa Senhora do Vale. A construção da Cartuxa vai avançando a pouco e pouco dadas as dificuldades financeiras, mas também o próprio tempo que demora a preparar tudo.
Em 1621 é chamado a suceder o prior Francisco Caracava, e é obrigado a abandonar a “sua” obra, a ele sucede o espanhol Bernardo Gort, que deu seguimento aos planos do seu confrade. A construção avançava lentamente, devido aos vários passos necessários, como a obtenção de pedra nas pedreiras, o trabalho de cantaria e de montagem, o transporte demorado por meio de carros de bois e o trabalho manual (pedreiros, canteiros e trolhas) e, sobretudo, à falta de verbas.
“Esta obra é mui notável, e ninguém há por dentro a veja e se não admire da sua grandeza; basta dizer que sobre elas se fundou depois um lance de um lance de um grande e formosíssimo claustro e 8 celas com os seus jardins as quais mudaram fundar pessoas ilustres, e devotas da nossa ordem”.
Frei João de São Tomás
A entidade arquitetónica que centralizava a vida eremítica dos padres era o claustrus maius, o grande claustro que se erguia tipicamente por detrás da igreja e seguindo o eixo desta, assumindo no conjunto uma importância dimensional incomum, resultante da repetição das celas em redor das quatro galerias que lhe dão forma. Essas galerias tinham unicamente uma função de passagem, por elas transitavam os cartuxos, protegidos das intempéries, para se deslocarem às atividades comunitárias e os irmãos para distribuir a comida aos padres. Uma vez que o monge cartuxo passa a maior parte do seu tempo no interior da cela, esta tornava-se mais que um espaço de dormir, contendo em geral quatro a seis divisões, dai resultando uma célula residencial autossuficiente, com pelo menos uma zona de dormir, um escritório, a capela e um horto individual. Todas as celas tinham o mesmo tamanho, excetuando as esquinas onde o horto era maior com o único propósito de equilibrar a planta. As celas do claustro maior foram construídas por meio de doações de benfeitores em troca de benefícios espirituais por parte dos monges.
Em Laveiras, apesar do claustro maior nunca ter sido finalizado, não só por razões financeiras, mas também pela determinação de 27 de Maio de 1834 que expulsou de Portugal todas as ordens religiosas, ainda assim é possível perceber o seu carácter monumental.
Com treze arcos em cada ala, de maior dimensão que os do claustro pequeno – ficaram por acabar o Norte e Nascente – era aqui que se encontravam as celas (ermidas) dos monges.
“Compunha-se cada cella de uns tres quartos, todos pequenos, com um jardimzinho, em que havia tanque e fonte de água corrente.
Os jardins eram separados, no tempo dos frades, por altos muros, pois que não era permitido a esses religiosos conversarem, nem verem-se fora dos actos de comunidade.”
“ainda a metade da casa não está edificada se se acabar será uma das mais famosas casas da ordem, porque o claustro em que vivem os monges é obra régia, e magnifica, as celas mui perfeitas, pois como tem afirmado muitas pessoas que tem visto muitas casas da ordem assim nos reinos de Espanha, França, Itália, Polónia e Alemanha, em nenhuma se vêem celas nem melhores, nem mais bem repartidas”
Em 1712, o padre António Carvalho da Costa descrevia Laveiras, onde referia a existência de uma ermida de Santo António, por onde passava um rio pelo meio, cuja ponte tinha um só arco, onde se situava o Forte de São Bruno, e da parte do Nascente ficava o Convento dos Cartuxos.
Em 1735 durante o reinado de D. João V, os frades resolveram ampliar o convento e edificar nova igreja, por se achar a primeira de pequena dimensão e fraca construção. Assim a nova igreja é deslocada para um lugar mais ermo, tal como o núcleo de todo o edifício.
Em 1755, o terramoto danifica a igreja mas não terá sida atingida pelo maremoto pois o vale da ribeira em Caxias era bastante amplo na sua ligação ao Tejo e a cota de construção estaria acima dos “12 palmos” de água que terão entrado terra adentro.
O mar depois dos três movimentos da terra estando a maré vazia teria passado um quarto de hora três vezes entrou pela terra pelo mesmo espaço com que foram os movimentos da terra e com tanto ímpeto que botou abaixo as guardas da ponte da Cruz Quebrada, limite d´esta freguesia do meio para a parte do sul e não obstante serem pedras grandes ficaram a maior parte deitadas sobre a ponte e algumas levou bastante distancia pela terra dentro e segundo o baixa-mar em que estava levantou segundo dizem algumas pessoas bons trinta palmos. E junto à mesma ponte no casal do Esteiro estava um brejo aonde a terra abriu varias bocas e a maior havia de ter palmo e meio de largura por onde se metia uma aguilhada comprida e não chegava ao fundo e no mesmo casal se viram alguns olhos de água por onde saia areia branca do mar mas duraram pouco tempo. Algumas fontes se secaram por algumas horas e ficaram com menos agua umas e outras com mais.
padre Sebastião Henriques, Pároco de Carnaxide
O terremoto teve ainda outra repercussão, nas Leis Gerais, um alvará régio de 1756 estabeleceu duas novas celebrações religiosas em todo o Império português, em que a primeira seria pelo Patrocínio de Nossa Senhora – “como protetora nossa assim no passado como no futuro contra os terremotos”;
A reconstrução pós-terramoto da igreja decorreu segundo um projeto setecentista com desenhos da autoria de Carlos Mardel.
A igreja da Cartuxa de Laveiras que podemos visitar atualmente substituiu em 1736 o templo primitivo, que não oferecia condições ao conjunto. De planta retangular simples, nave única em berço e abside quase quadrangular, cobertas por telhados de duas águas. As paredes laterais são pontuadas por dois pequenos armários e quatro portas de verga, das quais as duas a Este são falsas e as Oeste comunicam com o claustro menor.
De fachada ampla em calcário de lioz lavrado, seguindo o desenho do Mosteiro Scala Coeli em Évora, é um belo exemplar da arquitetura do século XVIII, elevada em relação ao plano do adro, sendo o desnível vencido através de uma escadaria de desenho composto.
O frontispício é ladeado por duas frentes simétricas, marcadas cada uma por três vãos de janela alta, encimada por uma imagem da Virgem com o Menino ao colo.
Num manuscrito intitulado Origines Cartusianorum Lusitaniae, Frei João de Santo Tomás escreveu uma “breve notícia” em que dá conta da visita da família real, toda, na véspera da festa de S. Bruno (6 de Outubro) e como todos comeram no mosteiro, com respeito pelas normas internas. E, no dia seguinte, 7 de Outubro de 1737, D. João V veio à festa de S. Bruno e jantou com os monges. Nestas visitas, que incluíam refeições, sempre se punha a questão da carne, que não faz parte da dieta da Cartuxa e uma “queixa” da Rainha sobre a ementa também ficou registada.
Em 1758, o padre-cura Francisco dos Santos Pereira, ao aludir a Laveiras, entre outras localidades da região, logo após o terramoto, referia a ermida de Nossa Senhora de Porto Seguro, que pertencia aos Monges de São Bruno, lugar de romagens, que no dia da Natividade da Senhora (8 de setembro) recebia romeiros de Lisboa.
O Mosteiro de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia de Laveiras é também designado por Hospício ou Convento de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia de Laveiras, ou Simplesmente como Cartuxa de Laveiras.
Local de contemplação, oração, interioridade, silêncio e solidão, a Cartuxa viu passar por si muitos monges escritores. Bons escritores. Homens de leitura, estudo e ligados também ás Artes.
Domingos António do Espírito Santo nascido a 10 de março de 1768 em Lisboa, revela, em 1782, os primeiros desenhos assinados com o apelido Sequeira, que havia tomado do padrinho de batismo, o tendeiro Domingos de Sequeira Chaves. Veio a tornar-se primeiro pintor de câmara e corte, é também, para muitos, o primeiro dos românticos portugueses, mas por motivos ainda hoje algo obscuros, pois apesar do sucesso de que gozava terá caído num profundo estado de melancolia, atribuído à dimensão reduzida do mercado artístico nacional e a um desgosto amoroso que envolveu uma familiar da abastada família dos Cometti com quem se tinha relacionado em Roma, onde tinha sido nomeado membro da academia romana de S. Lucas, com o grau de professor e embora ainda pensionado pelo Príncipe-Regente, o futuro D. João VI, Sequeira sentia o vácuo à sua volta: hostilidade surda dos colegas despeitados, incompreensão de muitos, frieza de quase todos. Desiludido, desesperado, Domingos António de Sequeira entrou como noviço para a Cartuxa de Laveiras, em 1796, onde, numa fase que acabou por ser bastante intensa e multifacetada e que durou até até 1802, pintou uma série de cinco telas de grande dimensão com passos da vida de S. Bruno (fundador e patrono dos Cartuxos) e de outros santos eremitas, de impressionante e dramático claro-escuro, em que se nota a influência de Dominiquino na composição e dos Venezianos no colorido: «A conversão de S. Bruno» (Museu Nacional Soares dos Reis), «São Bruno em oração» e «Comunhão de Santo Onofre» (ambos do Museu Nacional de Arte Antiga), e ainda «S. Paulo com Santo Antão no deserto».
De acordo com o investigador do Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Hugo Miguel Crespo, este período de reclusão foi muito profícuo e além das telas, muitos desenhos e pinturas sanguíneas de extrema beleza foram executados, estes desenhos remontam a um período ainda mal conhecido da sua vida, que coincide com a breve incursão monástica do pintor na Cartuxa de Laveiras. “São obras que colocam em evidência a sua grande mestria enquanto exímio desenhador e a frescura que trouxe consigo da aprendizagem romana, pelo traço veloz, mas preciso e seguro, ao mesmo tempo espontâneo, fácil e expressivo”, explica. Um O álbum recentemente leiloado, incluía 27 desenhos sobre papel realizados a pena (a negro e a sépia) e 24 desenhos a lápis sobre papel, com dimensões que variam entre os 26,3cmX20,3cm e 9,3cmX12,5cm.
Domingos Sequeira serviu-se do desenho como a melhor ferramenta do espírito, para dar forma às coisas em que acreditava ” (Markl, 2014, 226).
Morre em Roma a 7 de março desse ano. Está sepultado na Igreja de Santo António dos Portugueses, na capital italiana.
Vieira Lusitano foi um pintor, ilustrador e académico de mérito da Academia de São Lucas, de Roma. Foi cavaleiro professo na Ordem de Santiago da Espada, pintor histórico da Casa Real Portuguesa e ilustrador de múltiplas obras coevas.
O altar-mor da igreja conventual da cartuxa de Laveiras era presidido por um grande quadro, alusivo à chegada de São Bruno à Cartuxa, da autoria de Francisco Vieira de Matos mais conhecido como Vieira Lusitano (1699-1783), a sua dimensão é tal que se encontra “arquivado” no MNAA e a necessitar de restauro, que se vislumbra trabalhoso.
Lisboa foi tema e destino de grande parte da sua obra mas muitas criações perderam-se com o Terramoto de 1755,
Em 1774, após a morte de sua mulher, Inês de Lima, o pintor recolheu-se ao Convento do Beato António, em Xabregas, onde escreveu a sua autobiografia: O Insigne Pintor e Leal Esposo.
Outro aspeto particular desta Cartuxa seria a “Galeria dos Veneráveis” da Casa do Capítulo da Cartuxa que se encontra dispersa, mas em estudo.
A extinção das ordens religiosas em Portugal tem raízes no reinado de José I de Portugal e governação de Marquês de Pombal. Pelo Alvará de 3 de setembro de 1759, foi decretada a expulsão dos Jesuítas do país e confiscados os seus bens, que passaram a incorporar a Fazenda Nacional.
Com o fim do conflito e a vitória dos Liberais, não foram só os Jesuítas que foram expulsos do país.
O decreto de 16 de Abril de 1823, referendado por José da Silva Carvalho, suprimiu o mosteiro de S.
Bento da Saúde e o Colégio da Estrela e mandou que os monges fossem transferidos para o mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia de Laveiras, extinto pelo decreto de 15 do mesmo mês.
Até então, nenhuma outra Ordem religiosa fora afetada, embora as primeiras Cortes Constituintes, por Decreto de 18 de outubro de 1822, tenham proibido a admissão de noviços e reduzido as casas conventuais.
Em 1823, pela Lei de 24 de Outubro a Ordem da Cartuxa foi reduzida a uma casa (permanecendo a de Évora), tendo sido feito o inventário de bens móveis e imóveis do mosteiro entre os quais dos da botica, do cartório, da livraria, e das terras de que a ordem dispunha em Povos, Laveiras, Caxias, Loures, Frielas, Apelação, Colares e Sintra, e ainda das propriedades em Lisboa, nomeadamente o hospício na Rua Direita do Salitre. No entanto, a supressão não chega a concretizar-se, pois essas determinações foram suspensas depois da contrarrevolução de 1823, mas não “saiu do espírito dos liberais a ideia de executarem uma reforma a seu modo“.
Período conturbado no País, a 6 de Outubro de 1930 a visita do Rei ao local para uma cerimonia solene é relatada nesta imagem
Os religiosos permaneceram no hospício até 24 de Junho de 1833, data em que fogem após a entrada dos liberais em Lisboa, aí permanecendo apenas Frei José Felix e outro converso. Por Portaria de 7 de Agosto de 1833 da Secretaria de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, foi mandado que o juiz de Fora de Oeiras fizesse conduzir os dois conversos ao Mosteiro de São Vicente de Fora de Lisboa, e tomasse conta por inventário toda a mobília, preciosidades, utensílios e propriedades.
Em 1834, a 12 de Março a sentença da Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas suprimiu, extinguiu e profanou o Hospício de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia de Laveiras. Pela mesma portaria foi proposto que o Frei José Felix fosse integrado na comunidade do Mosteiro de Mafra dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho.
A 28 de Maio, é assinado o Decreto de extinção das ordens religiosas masculinas e nacionalização dos seus bens. O ministro da Justiça Joaquim António de Aguiar, ficou conhecido pelo «Mata-Frades». Só será promulgado a 30 de Maio.
Já em Évora, após um revés histórico que os fez regressar, apenas em 1960, acabaram, os últimos quatro monges Cartuxos, também por abandonar também o mosteiro de Scala Coeli, a 8 de Outubro de 2019. Local de oração e contemplação, o Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli (que, em português, significa Escada do Céu), esteve inacessível a visitas durante os últimos 60 anos, tendo sido a casa dos monges da Ordem Cartusiana até outubro do ano passado. Ainda antes do final deste ano, será alvo de algumas obras de remodelação e conservação, e em 2021 receberá novas hóspedes: seis monjas do Instituto das Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, uma comunidade religiosa vocacionada para a vida contemplativa, conforme vontade do testamento original.
A Quinta de Laveiras, agora Mosteiro, foi ocupada primeiramente por militares, quase como armazém e paiol, e em1862, Vilhena Barbosa encontra a Cartuxa em estado de ruína, demolida “em muitas partes”, a igreja profanada e as ermidas apenas reconhecíveis. O conjunto terá servido como alojamento provisório de destacamentos da Engenharia Militar e pessoal envolvido na construção do Campo Entrincheirado de Lisboa, de que faziam parte o Forte de Caxias (Fortde D. Luis) atual Estabelecimento prisional de Caxias.
Em 1866, a 26 de Março, em virtude das Portarias de 26 de Novembro de 1863 e de 24 de Agosto de 1864, foram transferidos do cartório da Direção Geral dos Próprios Nacionais para a Torre do Tombo, os documentos pertencentes ao extinto Convento de Santa Maria do Vale da Misericórdia de Laveiras, da Ordem de São Bruno.
Em 1903 a Casa de Detenção e Correcção (CDC) de Lisboa para o sexo masculino é transferida do convento das Mónicas (onde fora instalada em 1872 com 120 menores) para a Cartuxa de Laveiras. No âmbito desta instituição, tinham sido introduzidas, pelo seu subdiretor padre António de Oliveira em 1901, um conjunto de medidas pensadas para uma aproximação ao carácter individual e à especificidade do menor delinquente, como a figura do prefeito-professor e as atividades paralelas da prática musical, educação física ou jardinagem, pioneiras na criação de um contexto regenerador considerado apropriado.
A partir de 1911, a Escola Central de Reforma procura colocar em funcionamento a primeira secção preparatória da rede, com vista à perceção das vocações que ditariam a formação profissional do menor; a sua realização cabal, cumprida somente em 1956, conformou assim mesmo a primeira instalação do género a ocupar uma construção pensada de raiz para o efeito.
A configuração arquitetónica, dentro do padrão de “Arquitectura do Estado Novo”, criada por Rodrigues Lima e Francisco dos Santos para a ampliação da década de 1950, que pretendia instaurar um modelo tipológico a aplicar neste programa da arquitetura pública judicial e prisional – o modelo pavilhonar – acaba por se constituir, paradoxalmente, em característica particular marcante do conjunto. Em nenhum outro estabelecimento, como em Caxias, o alargamento das instalações foi um objetivo atingido em condições idênticas: na criação de interdependência com autonomia entre as diversas partes, claramente caracterizadas e inseridas com harmonia no relevo natural, e hoje absorvidas por generosa mancha florestal; na proporção escolhida para as diversas construções, suficientemente grandes para suportar adaptações sucessivas mas evitando cuidadosamente o gigantismo, os pavilhões projetados e construídos entre 1949 e 1958 para internato de menores configuram a procura de uma tipologia própria para a categoria Reformatório no interior da rede de estabelecimentos dedicados ao problema da delinquência infantil e juvenil e de igual modo, a secção de semiliberdade do Reformatório Central de Lisboa transformou-se, em 1958, no primeiro exemplo desta modalidade de reinserção social a instalar-se num pavilhão criado expressamente para o efeito.
Entretanto a bênção da Igreja da Cartuxa e sua reabertura ao público e ao culto acontece em 1938.
Sobre todo o processo educacional remeto a cronologia para a imagem colorida de forma a mostrar a ocupação do espaço por épocas. O mosteiro encontrava-se edificado na área assinalada do período de 1598 (laranja), cuja extensão se prolongava até os limites do reduto sul e norte do atual estabelecimento prisional.
Através desse mapa pode-se verificar que o investimento no bem imóvel contemplou a construção de oficinas e locais destinados à pecuária, bem como a construção de pavilhões para alojar a população juvenil, num período compreendido de 1926 até 1985. Ou seja, quando ainda vigorava a Organização Tutelar de Menores (OTM), cuja política realçava o assistencialismo das políticas públicas relativamente aos menores internados. Entretanto, com a mudança do tipo de política tutelar sancionada pelo diploma que o sucedeu, a Lei Tutelar Educativa, observa-se uma retração de toda a dimensão territorial. Esta diminuição do espaço mostra-se em consonância com a política tutelar legitimada pelo diploma atualmente em vigor, que apertou os princípios da vigilância e do controlo social dos jovens.
Em 1976, Outubro dá-se a cedência de parte da Cartuxa para instalação da Escola Preparatória de Caxias (no corpo de aulas do IRPAO), que aí permanece até 2001.
A 15 de janeiro de 2019 é publicado o Anúncio n.º 11/2019, referente à abertura do procedimento de classificação da Igreja e Mosteiro da Cartuxa de Santa Maria Vallis Misericordiae (DR, 2.ª série, n.º 10/2019).
A Cartuxa de Laveiras, e articulando esta, com as restantes peças do complexo judicial, resultante num troço de paisagem construída sem dissonâncias flagrantes. Tal equilíbrio particular foi apenas rompido mais recentemente, como as intervenções que visavam a construção da Cidade Judiciária, suspensa em 2004.
Os moradores de Laveiras e de Caxias criticaram o projeto desde logo, contestando a grande volumetria e a insuficiência da rede de infraestruturas, e constituíram a comissão “Salvem Caxias” para prosseguir o protesto de forma organizada.
A Câmara de Oeiras deu parecer negativo à obra, por violar regras do PDM (Plano Diretor Municipal), e considerou a solução apresentada pelo Ministério da Justiça “desajustada e inconveniente” e a 28 de Julho de 2004, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra ordenou a suspensão das obras, no âmbito de um providência cautelar interposta em Março do mesmo ano, por Sá Fernandes, a pedido dos moradores.
Votado ao abando pelo ministério da Justiça, bastaram trinta anos para que o espólio educacional fosse pilhado e todo o interior vandalizado, apenas com um guarda para a área de todo o reformatório e mosteiro, que não conseguiu impedir ou sinalizar quando o mesmo era ocupado por sem abrigo.
Em 2006 o prior da Cartuxa da Transfiguração, nos Estados Unidos, veio a Scala Coeli (Évora). Os amigos da Cartuxa em Lisboa, eruditos autores de recentes publicações para dar a conhecer a Ordem, aproveitaram para acompanhar o Cartuxo a Laveiras, tendo sido esta a primeira visita de um Cartuxo ao Vale da Misericórdia, desde a expulsão da Ordem, em 1833.
O visitante Cartuxo ficou muito gratamente impressionado pelo entorno verde que ainda embeleza e ameniza o mosteiro laveirense. A Cartuxa está perto de uma grande cidade mas situada num bairro, num “Vale”, em que ainda os grandes edifícios não devoraram estes restos monásticos. Isso dá de longe uma bela vista da Cartuxa, que pode permitir a alusão literária ao tema tão cartusiano do Deserto. Além disso, o mais agradável é poder ainda passear ao redor da igreja e claustros entre árvores e plantas viçosas. Sem isso, a vivência do passado seria mais difícil.
Várias propostas de reformulação e reocupação do espaço foram também já apresentadas por estudantes de arquitetura, nomeadamente as de Lúcia Vieira e Maria João Rocha (2012) e a de Marina Rainho e Rita Ciríaco Pereira (2017), ambas da Universidade de Évora, previam a reconversão do espaço para uma Escola de Música.
Em 2019 no âmbito da Trienal de Arquitetura de Lisboa a intervenção “Um Certo Tipo de Vida” (US) explora a tipologia do Mosteiro da Cartuxa como um exemplo de arquitetura de racionalidade absoluta, em que a forma de vida não pode ser separada do espaço e dos rituais litúrgicos que abriga.
Parte de um estudo desenvolvido por professores e alunos de graduação da Universidade de Illinois em Chicago sobre a tipologia dos mosteiros cartusianos como exemplo de racionalidade extrema, inseparável do modo de vida dos monges cartuxos. O resultado é uma exposição que ocupa e reativa temporariamente o mosteiro abandonado da Cartuxa das Laveiras. Neste espaço fora da cidade e do tempo encontram abrigo nove variações de células habitacionais (oito maquetes e um pavilhão temporário) elaboradas a partir de uma mesma base – um cubo de 4x4x4 m – e um conjunto de regras e dimensões definidas a partir de uma crítica ao conceito modernista de “existência mínima” e seus desdobramentos contemporâneos.
Em 2014, a pretexto das comemorações dos 4 séculos do lançamento da primeira pedra da Igreja da Cartuxa de Laveiras, decorrem as Iªs Jornadas Espaço e Memória, de História e Património, com o tema: 400 Anos Cartuxa de Laveiras (1614-2014) Evocação Histórica e Artística ” promovidas pela Associação Cultural Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras, que entre os dias 6 e 11 de dezembro de 2014, tiveram no seu programa, bastante abrangente, que incluía, Música, Dança, Colóquios, Debates, Tertúlias, Cinema e ainda uma Cerimónia Religiosa. Tendo sido uma oportunidade aproveitada para refleção sobre o estado de degradação do monumento e a urgência da sua recuperação.
Ainda em torno destas Jornadas, realizadas em colaboração com a respetiva Câmara Municipal e com a união de freguesias de Oeiras e S. Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias, juntaram, no Auditório da Biblioteca Municipal, historiadores e historiadores da arte, professores universitários e investigadores locais, estas Jornadas centraram-se, de forma particular, na cartuxa de Laveiras, na sua história e nos seus aspetos artísticos, após duas intervenções iniciais, a cargo respetivamente do prior da cartuxa de Évora e de Juan Mayo Escudero, que apresentaram as principais linhas da vida e da espiritualidade de S. Bruno e da Ordem Cartusiana, e de uma outra, apresentada por Vítor Serrão, sobre o arcebispo “D. Teotónio de Bragança, fundador da Cartuxa de Évora (1587-1598)” e os aspetos mais relevantes da arte e arquitetura deste cenóbio.
No dia 17 de fevereiro de 2021, foi assinado o auto de cedência na Igreja da Cartuxa, em Caxias, com a presença da Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, para a recuperação da Quinta da Cartuxa. O Município de Oeiras compromete-se a realizar, ao longo de 10 anos obras de requalificação e restauro e vai investir cerca de 7,5 milhões de euros naquele património abandonado há 30 anos.
A Câmara Municipal de Oeiras chegou recentemente a acordo com o Estado. A concessão é de 42 anos e o objetivo é “dar a dignidade merecida àquele conjunto patrimonial histórico e colocá-lo à fruição pública” e o Executivo Municipal já aprovou os termos e condições de cedência, homologados pela DGTF.
Quanto ao mosteiro de Laveiras descrito pela atual autarquia como “Um espaço que apela à reclusão e silêncio.“, Autarquia que após acordo (assinado a 17 de fevereiro 2021) com o ministério da justiça esboça atualmente um plano de Reabilitação e não de Recuperação ou Restauro do edificado, e no âmbito de uma candidatura a capital europeia da cultura propõe: “A autarquia irá investir um total de 7,12 milhões de euros na sua reabilitação integral. Com mais de 400 anos, a Cartuxa será agora recuperada e será um Centro ligado às Artes fundamental para um dos eixos da Oeiras27” já apresentado como – Complexo da Cartuxa de Laveiras – Centro de Arte Contemporânea (ver imagem).
Muito já foi escrito sobre este espaço nos últimos tempos, e todos os que conhecem a história do edifício e o porquê da sua existência, entenderão que será necessário, após tantos anos de vivências no local, uma correta abordagem a este património, começando obviamente por investigações arqueológicas e posterior restauro do seu valor arquitetónico, o respeito pela envolvente natural que ainda despõe, que as antigas linhas e encanamentos de água sejam tidas em conta, em suma, que não há Cartuxa sem uma envolvente natural.
Sendo o tempo atual uma oportunidade única para ser convenientemente estudado e recuperado por estarem também a ser reabilitadas as áreas do Jardins da Quinta Real. Assim, qualquer finalidade que lhe venha a ser atribuída, deverá ter respeitar e ter em conta tanto o edificado como o seu simbolismo histórico, relembrando sempre que este foi um espaço de reclusão secular e eclesiástica, de contemplação e vivência com a natureza envolvente.
Fontes e Referências:
A Cartuxa de Laveiras – Joaquim Gusmão
Arquivo Nacional Torre do Tombo (web)
L’Ordre des Chartreux (web)
França, J.A. A Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina; Instituto de Cultura e Língua Portuguesa Ministério da Educação, Biblioteca Breve: Lisboa, Portugal, 1989; Volume 12.
Sousa, L. The Earthquake of the November 1, 1755 and a Demographic Study; Portuguese Geological Services: Lisbon, Portugal, 1928; Volume 3.
Macedo, M.L.; Silva, I.M.; Lopes, G.C.; Bettencourt, J. The maritime dimension of the Boqueirão do Duro (Santos, Lisboa) in the 18th and 19th centuries: First archaeological results. In Arqueologia em Portugal; Morais Arnaud, J., Martins, A., Eds.; Estado da Questão; AAP: Lisboa, Portugal, 2017; pp. 1915–1924.
Portuguese Navy. Entrance of the river Tagus with the harbour of Lisbon; Portuguese Navy: Lisbon, Portugal, 1879.
Toponímia de Lisboa (web)
Wikipédia (web)
Portugal, Torre do Tombo, Manuscritos da Livraria, n.º 787 – Livro dos defuntos que se enterram na Cartuxa do Vale da Misericórdia de Laveiras. 1608.
hemerotecadigital (web)
expresso.pt/cartuxa (web)
Lisboa revista municipal ano xviii- 2ªsérie- nº 21 (1987)
Uma negra são-tomense na Lisboa quinhentista: Simoa Godinho, proprietária, negociante de açúcar e mecenas da Misericórdia – Jorge Fonseca
Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. – Testamento de Dona Simoa Godinha (Ms.) – Maço n.º 5. n.º 49.
Lusitania Sacra – Série 1 – Tomo 001 (1956)
Dona Simoa de S.Tomé – Dona negra de alma branca – V.M.Braga Paixão – 1964
FARIA, Basílio de, O. Cart. 1569-1625, Vida do Patriacha Sam Bruno fundador da Religiam da Cartuxa / por o P. Dom Basilio de Faria Prior da Cartuxa de Scala Coeli da Cidade de Evora. – Em Lisboa : na officina de Domingos Lopes Rosa, 1649
Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teotónio de Bragança, 1578-1602
Dicionário de História Religiosa de Portugal
IRPAO – Instituto De Reeducação Padre António Oliveira (doc.web)
patrimoniocultural.gov (web)
Storino, Carla (2018) Controlo social e responsabilidade em Jovens em conflito com a Lei. Um estudo etnográfico num Centro Educativo. Life Research Group Blog, ICS-Lisboa, https://liferesearchgroup.wordpress.com/2018/02/08 08 de fevereiro 2018
Caro Rui Veiga,
Gostei muito deste texto: do que escreve sobre
a ordem e Vale da Misericórdia. Existe apenas
uma pequena imprecisão ao citar o Padre
Antão Lopez “ sobre a vivência Cartusiana “, quando
o fragmento da inagem é da página 13, do livro
“ A Cartuxa de Laveiras, Um Roteiro Espiritual “,
doutro autor.
Atenciosamente,
joaquim